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sábado, 25 de abril de 2015

Mário Perini fala sobre seus estudos gramaticais


Entrevista concedida a Revista Letra Magna, revista eletrônica de divulgação científica em língua Portuguesa, Linguística e Literatura.

Mario Perini, Professor da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

LetraMagna: Professor Perini, em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar que estamos honrados com sua entrevista, e o parabenizamos pelo lançamento da “Gramática do Português Brasileiro”, obra que será, certamente, referência no meio acadêmico. Para começar, gostaríamos que respondesse: quem é “Mário Perini”? Conte-nos um pouco de sua trajetória acadêmica.

Perini: Sou formado em Letras (português e latim) pela UFMG. Nos primeiros anos da minha carreira, fui professor do ensino médio e de cursinhos pré-vestibulares. Logo depois de formado comecei a trabalhar em universidade: primeiro na Faculdade de Filosofia de Formiga, MG, e a partir de 1968 na UFMG, onde fiquei até 1999, com um intervalo de um ano (1978) em que trabalhei na UNICAMP. 

Em 1970 iniciei minha pós-graduação na Universidade do Texas (Austin), onde obtive o doutorado em 1974. Fiz estágios pós-doutorais, uma vez no Texas e três vezes na Univ. de Illinois (Urbana-Champaign). Depois de aposentado, trabalhei na Univ. de Illinois como professor visitante (2 semestres) e na Univ. do Mississípi (3 semestres); no Brasil trabalhei durante 4 anos e meio na PUC-Minas, e desde 2008 estou de volta à UFMG como professor voluntário, com uma bolsa do CNPq. Minhas pesquisas se concentraram em três pontos principais: (a) gramática do português do Brasil, em especial sintaxe e semântica; (b) ensino de português como língua estrangeira; e (c) aquisição da leitura fluente. Publiquei 12 livros, além de um número especial de revista (com 3 colaboradoras) e uma antologia. Meu projeto atual é a descrição das valências verbais do português do Brasil.
LM: Recentemente o senhor foi homenageado com a Medalha Isidoro de Sevilha, concedida pelo Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Como foi esse momento e como se sente em relação a esse reconhecimento da importância de trabalho para o país?

P: O que me agradou nesse episódio foi o reconhecimento por parte de meus colegas (a Medalha é concedida mediante uma votação entre os linguistas em atividade no Brasil). É muito bom saber que tem gente competente que lê o meu trabalho e o aprova.

LM: Quais suas maiores realizações no campo da pesquisa linguística? O que o levou a pensar numa “gramática do português brasileiro”?

P: Acho que o mais importante é a contribuição que tenho tentado dar à descrição do português brasileiro. Sempre achei muito estranho que o português brasileiro, que é a língua nativa de 190 milhões de pessoas (é no mínimo a 8ª língua mais falada do mundo), não tivesse sido objeto de uma gramática – já que todas as gramáticas disponíveis descrevem o português escrito, que é muito diferente. Tentei remediar essa situação com meu livro Modern Portuguese (publicado pela Univ. de Yale em 2002) e agora com a Gramática do Português Brasileiro (Parábola, 2010). 


LM: O Senhor considera a Gramática uma ciência? Por quê?
P: A gramática é certamente uma ciência – é parte da linguística, e precisa ser estudada levando em conta os princípios de rigor metodológico, coerência interna e adequação aos dados que regem o trabalho científico em geral. A gramática tradicional utilizada em nossas escolas é deficiente em todos esses pontos – além de ser normativa, isto é, muitas vezes, em vez de descrever os fatos, dá prescrições sobre como os fatos deveriam ser.

LM: Qual a perspectiva teórica adotada em sua obra mais recente, “Gramática do Português Brasileiro”?


P: A GPB não segue nenhuma das correntes teóricas do momento. Em vez disso, procurei fazer uma descrição dos fatos da língua, baseando-me em resultados já aceitos por todos os linguistas (ou pela maioria). Se há na GPB algum posicionamento teórico, seria o cognitivista, mas fortemente colorido por uma preocupação de descrever fatos.

LM: Quais os seus objetivos em relação à publicação? O senhor espera que ela seja adotada em todos os níveis de ensino?
P: A GPB foi escrita tendo em mente o público universitário: alunos de faculdades e professores de português. Para os níveis iniciais, vai ser necessário produzir novo material , inclusive exercícios, com uma seleção cuidadosa de temas para se adequar ao nível de informação dos alunos do ensino médio.
LM: Quais os maiores problemas com o ensino de Língua Portuguesa nas escolas em geral, e nas escolas brasileiras, num sentido mais estrito?

P: O maior problema é a deficiência de leitura e escrita. Isso vai ter que ser atacado separadamente, e não tem a ver com o ensino de gramática. Precisamos de boas bibliotecas nas escolas, muita ênfase na leitura, produção de obras de divulgação científica e intelectual etc. O ensino de gramática, embora importante, vem em segundo lugar. Eu não acredito que estudar gramática seja um caminho para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita; a gramática tem seu lugar na escola média, mas como uma disciplina científica, ao lado da química e da história.


LM: A partir do lançamento da gramática, qual o seu próximo projeto? Continuará envolvido no estudo da gramática? Fale de algumas perspectivas.
P: No momento, estou envolvido com meu projeto de descrição das propriedades sintáticas e semânticas dos verbos do português brasileiro – é o que eu chamo as valências dos verbos. E tenho a intenção de voltar ao estudo da estrutura interna do sintagma nominal, um projeto dos anos 90 que só foi realizado em parte. Mas tenho também planos de produzir material de ensino de gramática para uso na escola média.

Por Artarxerxes Modesto

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